domingo, 15 de agosto de 2010

A bíblia: o nosso livro

A bíblia: o nosso livro

Para a Igreja Católica no Brasil o mês de setembro é tempo de aprofundamento do significado da Bíblia, a Palavra de Deus. Setembro foi escolhido porque, no dia 30, celebra-se São Jerônimo (347-420), um dos grandes pais da Igreja na passagem dos séculos quarto a quinto. O papa Dâmaso o encarregou da revisão do texto latino da Bíblia e ele iniciou uma nova tradução do Antigo Testamento para o latim, a partir do texto original hebraico e aramaico. Ao conjunto dessa Bíblia latina revisada ou traduzida deu-se o nome de Vulgata que se tornou texto oficial de referência para toda a Igreja, especialmente para a Igreja latina do Ocidente.

Não existe um tempo, como se os demais tempos não fossem propícios para Deus se comunicar através da sua Palavra. Cada momento pode ser um “kairós”, tempo especial de graça, para que Deus se comunique de muitas formas, especialmente pela sua Palavra. Setembro é um desses tempos propícios para que todos os cristãos, sem distinção do lugar que ocupam na comunidade eclesial, perguntem-se sobre o lugar que a Palavra de Deus ocupa em suas vidas.

É preciso entender que a Bíblia toda é considerada Palavra revelada de Deus. O Antigo Testamento é patrimônio comum dos judeus e dos cristãos. Os judeus são o povo da primeira Aliança realizada por Deus com Abraão. Eles são os nossos irmãos mais velhos na fé. Os cristãos são o povo da Nova Aliança realizada por Deus em seu Filho Jesus Cristo. Somos os irmãos mais novos na fé de Israel que, conforme cremos, Jesus levou à plenitude, mas também nós veneramos Abraão como pai na fé. O Novo Testamento é patrimônio comum de todos os cristãos. A Bíblia toda é o fundamento comum para a fé de todas as Igrejas cristãs, não importa se ela é, conforme as Igrejas da Reforma, da tradição do cânon da Bíblia hebraica com sete livros a menos para o Antigo Testamento, ou conforme a Igreja Católica, da tradição da Bíblia dos Setenta que tem sete livros a mais.

A Palavra de Deus revela e age. Revela quem é o Deus verdadeiro e age quando se faz homem encarnada na pessoa e no projeto de Jesus Cristo de Nazaré. Age operando a salvação aqui na terra. Os cristãos acreditam que o mistério da Palavra de Deus tem como centro a pessoa de Jesus Cristo, inseparável da sua missão e projeto e por ela orientam sua espiritualidade de seguimento de Jesus como discípulos. O seguimento de Jesus só se consolida se os discípulos desenvolverem o sentido da pertença a Ele descoberta e vivenciada na sua Palavra. Diz São Paulo na primeira carta aos Coríntios: “Tudo é de vocês, mas vocês são de Cristo e Cristo é de Deus”. (1Cor 3, 22)

A iniciativa é sempre de Jesus, mas a pertença somente acontece se cada batizado se decidir livremente por Ele, se houver uma opção pessoal por Jesus Cristo, Palavra encarnada do Pai. Não basta ter o nome de cristão como um rótulo que se põe em qualquer produto. Não bastam algumas práticas decorrentes de uma cultura de verniz cristão. A Palavra de Deus vivida é que conduz à pertença a Jesus Cristo.

Mesmo sendo uma componente fundante da vida cristã na formação dos catecúmenos e na vida da Igreja, a Bíblia, que nos primeiros séculos impulsionara a expansão do cristianismo, tornou-se, com o tempo, um livro de especialistas. Na Idade Média, surgiram várias normas que impediram o acesso do povo à Palavra, por medo de distorção do seu significado. A Reforma Luterana estabeleceu que só a fé, só a graça, só a Escritura seriam constitutivas para a vida da Igreja, resgatando assim para si a centralidade da Bíblia.

A Igreja Católica, com o Concílio Vaticano II, exigiu o urgente retorno à Sagrada Escritura como referência primeira para todas as dimensões da sua vida. Foi assim que o povo pôde aprofundar a consciência do significado da Bíblia por toda parte. No Brasil, através de cerca de cem mil grupos bíblicos o povo pode afirmar: “Este livro é nosso!”.

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