domingo, 15 de agosto de 2010

Eucaristia: celebração da assembléia

Eucaristia: celebração da assembléia

A vida e missão da Igreja católica é iluminada pelas ricas conclusões do Concílio Vaticano II, que aconteceu de 1962 a 1965. O concílio foi um evento eclesial que reuniu todos os bispos do mundo, contando ainda com a colaboração de teólogos, peritos, observadores e também convidados de outras religiões cristãs. Convocado pelo Papa João XXIII, foi um concílio eclesiológico, com o objetivo de elaborar uma doutrina sobre a Igreja que seja renovada e atualizada, que consiga falar ao homem moderno.

Para alcançar isso, os padres conciliares pensaram em retornar à vivencia dos cristãos dos primeiros séculos e às fontes patrísticas, isto é, aos ensinamentos dos Padres da Igreja, que são os bispos dos primeiros séculos. Quanto mais o concílio mergulhava nas fontes patrísticas, mais acabava emergindo o tema da Eucaristia. Treze documentos dos dezesseis emanados do Vaticano II falam amplamente desse tema. Tudo isso apesar do fato de que nenhuma sessão foi dedicada exclusivamente para se tratar da Eucaristia. Isso aconteceu porque ela é realmente o centro de tudo na Igreja.

No documento “Presbyterorum ordinis” (sobre o ministério e a vida dos sacerdotes), afirma-se que “na Eucaristia é contido todo o bem espiritual da Igreja, isto é, o Cristo, a nossa Páscoa. Ele é o pão vivo que, por meio da sua carne vivificada pelo Espírito Santo, dá vida nova aos homens.” A Eucaristia é assim o mistério de Deus entre nós, o coração da vida da Igreja.

Depois da ressurreição, Jesus aparece aos discípulos e institui a perenidade da assembléia eucarística dominical. A partir da ressurreição até Pentecostes, Ele apareceu aos discípulos em todas as primeiras feiras da semana, que a partir disso se tornaram o domingo, o “dia do Senhor”. Foi nesses encontros que Ele deixou os elementos constitutivos da celebração eucarística na assembléia dominical. Desde aquele tempo, a comunidade dos discípulos nunca parou de reunir-se aos domingos, para cumprir com o seu mandamento: “Fazei isso para celebrar a minha memória.” (1Cor 11, 24)

A partir disso, a Eucaristia se apresenta para os cristãos como a assembléia por excelência. Falar da Eucaristia prescindido da assembléia e do povo de Deus em geral não corresponde à plena verdade litúrgica. O rito exige a assembléia, pois é ela que celebra. O presidente age sim “in personna Christi”, mas a serviço da assembléia eclesial.

Para o Vaticano II, é evidente que não existe Igreja sem Eucaristia e Eucaristia sem Igreja. Isto sempre foi verdade, mas não transparecia do rito como era celebrado. O Concílio de Trento, de fato, legitimou as separações entre as várias dimensões eucarísticas, como sacrifício salvífico, comunhão eclesial, ceia convivial e presença real, que abriram caminho para outras separações. Criou-se aos pouco até costume das missas particulares ou “privadas”, reservadas a quem fazia uma boa oferta. Trinta padres no mesmo lugar celebravam trinta missas até no mesmo horário e lugar, mas cada um no seu altar. A reforma do Vaticano II levou a Igreja a considerar a Eucaristia na sua globalidade, unificando essas várias dimensões.

Como caminho para interpretar e assimilar este mistério, o Vaticano II nos indica o método dos Padres da Igreja, que é o ensino pregado através dos ritos e das orações. Em relação à Teologia dos Sacramentos, os Padres da Igreja antes rezam e depois ensinam: rezam para crer de verdade e ensinam para saber melhor no que devem acreditar.

Antes do Vaticano II estávamos bem longe de tudo isso. Existia em todas as Igrejas um balaústre que separava o presbitério dos fiéis leigos (o leigo, segundo muitos dicionários, é aquele “que é estranho ou alheio a um assunto”). O padre celebrava para eles em latim e eles assistiam em silêncio. O Vaticano II renovou a celebração eucarística e voltou a considerar a Eucaristia como centro de tudo na vida da Igreja, dizendo que ela é “fonte e ápice, raiz e tronco, centro e vértice” da vida cristã, da liturgia e da evangelização.

O Vaticano II dá um passo decisivo quando afirma que quem celebra é toda a assembléia eucarística no seu conjunto, isto é, todo o povo de Deus. É por isso que os fiéis são chamados, não a assistir à celebração eucarística, mas sim a participar. Não é mais o padre que celebra e os fiéis que assistem. É a própria Igreja que celebra, por isso o concílio insiste para que todos os fiéis sejam formados “a uma plena, consciente e ativa participação na celebração litúrgica, como é pedido da própria natureza da Liturgia.”

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